terça-feira, 12 de outubro de 2010

Brasil volta a cair em ranking de igualdade entre sexos

Boa notícia para as mulheres do mundo, mas não para as brasileiras: a igualdade entre os sexos está aumentando na grande maioria dos países, segundo o ranking do Fórum Econômico Mundial chamado Gender Gap, no qual o Brasil caiu da 81ª primeira para a 85ª posição este ano. Desde que o estudo começou a ser feito, em 2006, 86% dos países estudados aproximaram as condições de vida e de renda entre mulheres e homens; o Brasil, porém, ficou no mesmo lugar, com uma melhora insignificante, na faixa de 1%, na taxa de igualdade.

Para a economista Saadia Zahiri, uma das coordenadoras do estudo e diretora do programa de liderança para mulheres do Fórum Econômico Mundial, os resultados mundiais são animadores, e revelam o acerto de algumas políticas públicas adotadas nos mais diversos países.

- O que mais nos anima é que estamos vendo avanços tanto no topo do ranking quanto na parte de baixo, nos países que já estavam bem e em outros que conseguiram resultados importantes nos últimos anos. Não apenas na Noruega ou na Finlândia, mas também em países como os Emirados Árabes - disse Saadia.

Os 14 indicadores do Gender Gap incluem acesso à educação, expectativa de vida, participação no mercado de trabalho, remuneração, participação política (número de mulheres no Congresso e nos altos escalões do governo). Aqueles em que o Brasil vai pior são a desigualdade na remuneração - o estudo aponta que a mulher brasileira ganha pouco mais da metade do homem para fazer o mesmo trabalho - e a baixa participação política, com apenas 9% de mulheres no Congresso.

A pesquisadora nota que o Brasil melhorou muito, em termos de igualdade, na esfera da educação fundamental e básica, nos níveis de alfabetização, e que, no que diz respeito ao ensino universitário, as mulheres já ocupam mais vagas que os homens.

- Isso é extremamente importante nesse momento, em que o país está mudando de perfil, passando a ser uma economia mais voltada para a inovação e o conhecimento. É preciso assegurar que todo esse talento vai ser integrado à economia, mas quando você olha os níveis de participação na economia, as mulheres têm 64%, contra 85% dos homens, uma diferença enromeenorme. - observa Saadia.

O grande problema do Brasil, segundo a economista, é que a integração de grandes contingentes de mulheres às escolas e ao mercado de trabalho não está se traduzindo em maior igualdade de renda. Em termos de percepção sobre salários, os executivos brasileiros acreditam que as mulheres estão ganhando pouco mais da metade da remuneração dos homens para fazer o mesmo trabalho: US$ 7 mil anuais, em média, para mulheres, US$ 12 mil para homens. A percepção de igualdade de salários, se fosse o único indicador, colocaria o Brasil na 123ª posição, e, nesse indicador, o Brasil vem piorando a cada ano.

As mulheres brasileiras já são maioria nas ocupações com formação técnica ou universitária (52%), mas apenas 36% chegam aos postos de comando, o que é apontado pelo estudo do Fórum Econômico Mundial como um dos índices de maior desigualdade de gênero no país.

O Brasil vai mal na comparação com os vizinhos: a Argentina aparece na 28ª posição no ranking, e o Chile, na 48ª. Quatro países nórdicos se mantiveram no topo da lista: Islândia, Noruega, Finlândia e Suécia. São países que se saem bem em todos os pontos aferidos pelo Fórum, e já reduziram a desigualdade entre gêneros em mais de 80%. Na Suécia, a licença pelo nascimento de um filho é em média de um ano, podendo ser estendida com redução proporcional de salário, mas tem que ser exercida ao menos em parte pelo pai. São cada vez mais frequentes os casos de famílias em que marido e mulher dividem em proporções mais equilibradas, ou até iguais, o tempo de licença.

- É claro que os países nórdicos têm níveis de impostos muito altos, e que suas políticas são difíceis de reproduzir ao redor do mundo. Mas há muitas coisas que podem ser aplicadas em outros lugares, como a igualdade na distribuição de cargos nos conselhos e a substituição do conceito da licença-maternidade pelo de uma licença para os pais - afirmou a pesquisadora.

Em escala global, a presença de mulheres em cargos políticos, que era de 14% em 2006, subiu para 18% este ano, revelam os dados do estudo.

Os Estados Unidos subiram no ranking, chegando à 19ª colocação, principalmente devido à nomeação de um grande número de mulheres para cargos importantes no governo do presidente Barack Obama, entre os quais a secretária de Estado, Hillary Clinton. Segundo Saadia, a importância de modelos reais nos quais as pessoas se inspirem é grande.

- Há um impacto dos modelos de liderança: ter um exemplo de liderança feminina afeta enormemente a próxima geração, seja na política, nos negócios ou em qualquer campo. Um exemplo tão físico, tão palpável, afeta a dinâmica do processo.

Na Ásia, o melhor desempenho foi o das Filipinas, um dos únicos oito países do mundo a já ter eliminado as diferenças entre os sexos nos indicadores de saúde e educação.

Fonte: Jornal O Globo